As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, e sua prevalência vem aumentando assustadoramente em países em desenvolvimento, como o Brasil. Nas últimas décadas, interessados em reverter esta epidemia global, especialistas têm dado maior atenção aos níveis sanguíneos de colesterol de baixa densidade (LDL), que é importante fator de risco para infarto cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC).
Para diminuir o colesterol no sangue, a American Heart Association recomenda consumir <300 mg de colesterol por dia. Como os ovos de galinha são ricos em colesterol (cerca de 200 mg cada), os médicos geralmente aconselham os pacientes com colesterol elevado que evitem sua ingesta. No entanto, a associação entre o consumo de ovos e as doenças cardiovasculares não é clara.
Recentemente o Jornal Britânico de Medicina (BMJ) publicou estudo que contradiz a versão de que o ovo é um vilão.
Em uma meta-análise de 17 estudos clínicos, os pesquisadores avaliaram a relação entre o consumo de ovos e a ocorrência de infarto e AVC. A análise incluiu nove estudos sobre a doença arterial coronariana (DAC) e oito sobre AVC, com 10 a 20 anos de seguimento. Nenhuma associação foi encontrada entre o maior consumo de ovos e aumento do risco cardiovascular. Apenas pacientes diabéticos mostraram resultado diferente. Neste subgrupo, houve aumento do risco para doença arterial coronariana. Nos demais, além de não ter ocorrido aumento da incidência de infarto, houve menor risco de acidente vascular cerebral hemorrágico .
Isto quer dizer que, de acordo com o presente estudo, a maioria dos pacientes não precisa evitar a ingesta de ovos.
Conforme observam os autores, os ovos de galinha são baratos, ricos em proteínas e fonte de outros nutrientes, como vitaminas e minerais. Além disso, o colesterol em ovos é facilmente evitado se a gema não for consumida.
Em populações que seguem uma dieta restrita em carboidratos, a ingesta de ovos pode aumentar as concentrações plasmáticas do colesterol de alta densidade (HDL), que tem efeito protetor para doença cardiovascular. Faz parte da orientação nutricional de alguns países como Nepal, Tailândia e África do Sul, consumir ovos todos os dias ou regularmente, como parte de uma dieta saudável.
Conclui-se, portanto, que o maior consumo de ovos (até um ovo por dia) não está associado ao aumento do risco de doença cardíaca coronária ou AVC, e que estudos adicionais são necessários para determinar se pacientes diabéticos têm que restringir seu consumo. O que está claro é que o ovo é um alimento de grande valor nutricional, baixo custo, e que causa menos malefícios do que se pensava anteriormente.
REFERÊNCIA: Egg consumption and risk of coronary heart disease and stroke: dose-response meta-analysis of prospective cohort studies. BMJ. 2013 07 de janeiro; 346: e8539. doi: 10.1136/bmj.e8539
Karine Miranda – Geriatra e Clínica
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